domingo, 29 de janeiro de 2023

O Pelé na cobertura esportiva


Por Marcos Vinicius Cabral

Após sofrer infarto fulminante, Gilson Ricardo morreu na noite de domingo (22).

Morreu dormindo. E nunca dormiu nas coberturas esportivas em que participou.

Fosse na Rádio Difusora de Petrópolis, onde iniciou a carreira, na Bradesco Esportes, CNT, SBT, Bandeirantes e Rádio Globo por 35 anos, Gilson Ricardo sempre trabalhou com entusiasmo e fôlego de um garoto que sentia prazer nas coberturas em que era escalado.

Parte da minha infância vai junto com ele.

Poucas não foram as vezes que ouvi no rádio, Gilson Ricardo atrás do gol berrando no microfone:

"Ô, Bebetô! Ô, Bebetô!!! Para com isso".

Gilsão - como era chamado - não foi apenas um craque nas transmissões esportivas. Craques foram os outros. Gilsão foi gênio. 

Esse talentoso petropolitano está na prateleira dos grandes do jornalismo esportivo ao lado de nomes como Fiori Gigliotti, Waldir Amaral, Jorge Curi, José Silvério, Milton Leite, José Carlos Araújo, Washington Rodrigues, Doalcey Camargo, Galvão Bueno, Osmar Santos e Luciano do Valle.

Gilsão, Gilsão, Gilsão...

A Evolução da Comunicação nas Copas do Mundo, título que meu grupo de TCC produziu, me ajudou a conhecer pessoalmente Gilson Ricardo em 2017.

Gilsão foi o último a ser entrevistado por nós - depois de Washington Rodrigues e José Carlos Araújo - e confesso, foi o que mais arrancou risadas da gente. Das entrevistas, foi o material que mais rendeu.

Mas aquela tarde continua sendo inesquecível para mim e acredito que para meus colegas de faculdade.

Não só pela figura bacana que foi conosco naquela oportunidade, mas também pelo conhecimento sobre Copas do Mundo.

Gilsão, para quem não sabe, cobriu algumas e conversou por mais de uma hora conosco sobre o tema.

"A seleção de 70 é incomparável. Foi a melhor de todas. Mas o futebol arte não existe mais por causa da seleção de 82. Se o time de Telê ganha, até hoje teríamos magia nos jogos", revelou.

Sobre a Copa de 86 ele foi curto: "Foi uma sacanagem o que o futebol fez com Zico", disse referindo-se ao pênalti perdido contra a França.

"Pula essa. Terrível. E um dos piores mundiais", disse sobre 1990.

Mas passeamos por outras copas, mas essas três lembro com exatidão o que ele disse.

Trocamos números de telefones e meus textos sempre eram enviados para ele. Era curto e seco se não gostasse e sacana às vezes também.

Mas sempre dava uma opinião do que eu escrevia. O mais recente, um Flamengo e Botafogo, em que o goleiro Borrachinha, com defesas milagrosas apagou Zico & Cia com gol de Renato Sá em 1979.

Rubro-Negro e piadista dos bons, disse que no Rio só tem dois tipos de ladrões conhecidos de 'geraldinos' e 'arquibaldos': Sérgio Cabral e o Flamengo", contou dando aquela gargalhada e arrancando gargalhadas entre nós.

Era difícil falar sério com Gilsão. Mas conseguimos. E a banca nos deu a nota 10.

O radiojornalismo perde uma figuraça, mas acima de tudo um grande ícone do jornalismo esportivo.

No futebol que se joga no céu, Deus chamou Gilsão, um craque, para entrevistar outros tantos craques. Recentemente dois maiores camisas 10 do futebol mundial: Pelé e Roberto Dinamite.

Afinal de contas, de que vale uma bela partida no céu sem a cobertura de um repórter talentoso como Gilson Ricardo.

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