domingo, 29 de janeiro de 2023

Solidão e tempo

 

Por Marcos Vinicius Cabral

"Os dias estão passando rápido demais.

Em um estalar de dedos é janeiro, no piscar de olhos dezembro e com os cabelos brancos à mostra se chega à conclusão que estamos envelhecendo mais rápido do que queríamos e não lentamente como é desejado.

Não está dando para aproveitar as coisas como antes e momentos especiais ao lado de quem amamos acabam sendo substituídos por trabalho. Muito trabalho.

Se o tempo é ruim, há algo ainda pior: a solidão!

Mas existem os que estão só. E é por eles que escrevo.

Escrevo porque imagino que conviver com a casa vazia, a televisão desligada, um copo apenas de café sob a mesa e sem ninguém para conversar deva ser duro. E o pior: tudo em silêncio!

Nenhuma mão para abrir a porta e ninguém à espera do outro chegar. 

A pessoa está só. A solidão é a única companheira.

A tristeza pede para entrar na história. Quando menos se espera visitas, a tristeza bate à porta e quer entrar sem ser convidada.

No entanto, deixa que eu lhe diga: sua tristeza não vem da solidão.  

Vem da mente fértil e dela surgem fantasias. Isso é um perigo.

Como você se comporta com a solidão? 

Aprenda: as coisas agem e acontecem quando recebem nomes que lhe damos. 

Se chamo minha solidão de inimiga, ela será minha inimiga. E do contrário, a mesma coisa.

Existem pessoas que convivem com a solidão numa boa. Alguns têm vários amigos, estão rodeados de familiares e mesmo assim continuam sentindo-se só.

Por incrível que pareça, não é a quantidade de pessoas que determina o fim da solidão, mas a qualidade da companhia.

Melhor uma pessoa especial ao seu lado e em silêncio do que 15 outras falando determinados assuntos.

Certa vez, Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) disse: "Por muito tempo achei que a ausência é a falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim... essa ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim".

Saiba conviver com a solidão e com o tempo. No fim da vida serão, mais cedo ou mais tarde, as melhores companhias".

Roberto

 


Por Marcos Vinicius Cabral

Roberto foi o menino de olhar frágil e que sorria pouco tamanha seriedade em que encarava o sonho em ser jogador de futebol.

Criado no bairro de São Bento, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, Roberto era Calu e viveu momentos difíceis quando um grave tumor na perna quase interrompeu o sonho de vestir a camisa 10 do Vasco da Gama, seu clube de coração. 

Mas Deus e a mãe Neusa, que passou os momentos difíceis ao lado do filho, souberam cuidar muito bem da cabeça e coração do menino.

O tempo passou e as feridas do passado ficaram para trás.

Já crescido, o menino triste deu lugar a um habilidoso e notável jogador do São Bento, clube tradicional de Duque de Caxias, onde José Maia, o pai, havia sido goleiro. Já a mãe Neusa, ferrenha torcedora do Parque Lafayette, seu arquirrival.

Terceiro e último filho a nascer, Roberto ia dentro das quatro linhas fazendo gols e inspirado por Jairzinho, Furacão da Copa de 1970, aos poucos mostrava que bola na rede era o ele sabia fazer melhor.

Se o destino havia lhe tirado o sorriso quando ficou de cama por alguns meses, dessa vez o destino lhe compensou e colocou Francisco de Souza Ferreira, conhecido por Gradim, olheiro do Vasco da Gama no seu caminho e que se encantou com o moleque. Era 1969. 

Calu era coisa do passado e em São Januário, já aprovado na peneira, passou a ser chamado apenas por Roberto.

No primeiro ano de juvenil marcou 46 gols, encorpou em massa muscular e ganhou 15 quilos. 

Contra o Bahia, lançado por Admildo Chirol, no Campeonato Brasileiro de 1971, passou em branco.

Titular pela primeira vez, passou em branco também na derrota por 2 a 1 contra o Atlético-MG e não correspondeu às expectativas criadas em torno do futebol dele. Com isso, acabou substituído. 

Mas o destinou tratou de entrar em ação mais uma vez e aquele começo difícil seria esquecido definitivamente.

Todavia, se já falecido sueco Alfred Nobel por algum milagre, pudesse voltar à vida e, na sua qualidade de químico e inventor da dinamite, fosse indicado para receber o prêmio que leva o seu nome, ficaria, na certa, profundamente lisonjeado.

Motivos não lhe faltariam para colher os resultados de sua invenção, já que ela atravessou séculos, irrompeu mares, explodiu como bolas de fogo nos céus existentes do universo e foi, anos mais tarde, visto como grande feito naquele 25 de novembro de 1971, no “garoto dinamite” contra o Internacional, em pleno Maracanã.

Surgia enfim, um artefato à base de nitroglicerina dos pés daquele jovem de apenas 17 anos, que destruía defesas e fazia com que seus marcadores entrassem em conflito numa guerra declarada por cada gol explodido, como o seu primeiro na carreira contra a equipe Colorada.

A palavra dinamite nunca havia sido tão bem aplicada para descrever a ação de um ser humano de carne e osso, que aplicava força nos chutes.

Graças aos repórteres Aparício Pires e Eliomário Valente do Jornal dos Sports - que cobriam os treinos dos juvenis do Vasco na época - que o Roberto tornou-se Dinamite.

Enquanto vestiu a camisa do Club de Regatas Vasco da Gama - foi sem demérito algum para os outros ídolos de São Januário - o maior explosivo utilizado pelo clube. Assim era Roberto.

Não, não um Roberto qualquer. Era Roberto Dinamite! Esse mesmo Roberto que devemos incluir o Dinamite e torná-lo um nome composto.

Esse sobrenatural centroavante que conquistou as Bolas de Prata da revista Placar, em 1979, 1981 e 1984.

Esse desbravador de marcadores que foi artilheiro dos campeonatos brasileiros de 1974 e de 1984, ambos com 16 gols. 

Esse extraordinário atacante que foi artilheiro do Campeonato Carioca de 1978 com 19 gols, de 1981 com 31 gols e de 1985 com 12 gols.

Esse destruidor de esquemas táticos que foi artilheiro da Copa América de 1983 com 3 gols. Esse jogador diferenciado que foi artilheiro do Vasco em todas as temporadas de 1973 até 1985.


Esse exuberante profissional que continua sendo o maior artilheiro da história do Campeonato Brasileiro nos 328 jogos disputados e nas 190 explosões de gols. Esse camisa 10 vascaíno que é o maior artilheiro da história do Campeonato Carioca com 284 gols.

Esse atleta que é o maior artilheiro da história do Vasco da Gama com 708 gols. 

Esse jogador de talento esporádico que é considerado o maior artilheiro da história do estádio de São Januário com 184 gols.

Esse gênio da bola que é o atleta que mais vestiu a camisa do Vasco da Gama em sua rica história com 1.110 jogos. 

Esse artilheiro dos artilheiros que é, ao lado de Pelé e Rogério Ceni, os três jogadores brasileiros com mais de mil jogos por um único clube.

Esse exímio cobrador de faltas que foi eleito para o time dos sonhos do Vasco da Gama pela revista Placar em 2006.

Enfim, o camisa 10 de São Januário era um explosivo diferente, que não causava dano material algum, mas fazia vítimas por onde passava. Para o clube da Cruz de Malta, essa explosão suscitava em seus torcedores uma enorme alegria e a certeza que com ele em campo, gols eram questões de minutos.

Mas o gênio Roberto Dinamite era assim... ele explodia gols! 

De todos os jeitos, de diversas formas e de diferentes tipos. Muitos, centenas, milhares… e por mais de duas décadas, ecoou em estádios de vários cantos do Brasil e até do mundo, o barulho retumbante de gols, muitos gols.

De tanto ter seus gols amplificados pelos estádios de futebol mundo afora acabou chegando à Espanha e aos ouvidos do técnico espanhol Joaquim Rifé que pediu sua contratação.

Com 26 anos, nove temporadas no cruzmaltino e sendo assediado por clubes europeus, o Vasco não pôde evitar a transferência de seu melhor atleta para o Barcelona, que desembolsou 56 milhões de pesetas - moeda utilizada na Espanha entre 1869 a 2002 - e o tirou do Rio de Janeiro.

“Eu voltarei”, diria na ida. Na estreia no clube catalão, marcou logo dois gols e alçou voos maiores. Entretanto, o técnico que havia pedido sua contratação foi demitido três rodadas depois, sendo substituído pelo argentino Helenio Herrera, que cortou suas asas ao não utilizá-lo.

Nos três meses em que esteve vestindo as cores do Barça, o desejo de voltar a jogar era grande. Com o pensamento em voltar ao Brasil, recebeu Márcio Braga - então presidente do Flamengo - e Eurico Miranda - a mando do presidente Alberto Pires - que queriam a qualquer custo trazê-lo de volta ao Rio de Janeiro.

Nessa queda de braço, a paixão falou mais alto: Roberto Dinamite estava de volta a São Januário.

Em 5 de maio de 1980, a reestreia era contra o Corinthians, no Maracanã. O resultado foi uma goleada acachapante de 5 a 2, no qual o camisa 10 fez todos os gols da equipe vascaína.

Foi a volta triunfal do maior ídolo do clube, acompanhada inclusive por um repórter de Barcelona, que relataria o jogo para um jornal local com os dizeres: “Esto, sí, es lo verdadeiro Dinamita”, (os espanhóis nunca souberam pronunciar Di-na-mi-te)!

Mas ele havia voltado!

Carlos Roberto de Oliveira foi Dinamite em estado puro na magia de um futebol aprazível. Titular na Copa do Mundo de 1978, na Argentina, faltou pouco para ser campeão com a camisa 20 amarelinha.

Atravessou a década de 80 sendo mortal como sempre, foi injustiçado na Copa da Espanha em 1982, jogou na Associação Portuguesa de Desportos e disputou grandes jogos contra o Flamengo.

Ainda deu tempo de jogar no Campo Grande Atlético Clube em 1993, um pouco antes de se aposentar. Enveredou na política em 1992, elegendo-se vereador da cidade do Rio de Janeiro pelo PSDB e dois anos depois, elegeu-se deputado estadual, cargo este onde se reelegeria em 1998, 2002, 2006 e 2010.

Foi presidente do clube que tanto amou, mas não teve o sucesso dos gramados.

Na manhã deste domingo (8), Roberto saiu de cena derrotado por um maldito câncer. Lutou bravamente contra a doença e deixa vários exemplos para cada um de nós.

Humildade, simplicidade e caráter são alguns deles.

Minha eterna gratidão ao Bob, como era chamado carinhosamente pelos amigos, pelas duas vezes que me recebeu: uma em São Januário, em 2008, quando dei uma caricatura de presente e levei meu pai para conhecê-lo e outra em sua própria residência quando o entrevistamos para o TCC da faculdade em 2017.

Roberto Dinamite foi gigante. E me perdoem Romário, Edmundo, Bismarck, William, Bebeto, Geovani, Sorato, Mauricinho, Felipe e Juninho. E todos que já passaram pelo Vasco: vocês foram rasos (com todo respeito às suas histórias) diante da profundidade que o eterno camisa 10 do Vasco representa não apenas para o clube de São Januário, mas para o futebol brasileiro.

Viva Dinamite e muitas explosões de coisas boas para você aí no céu!

Matéria do velório de Roberto Dinamite


Indescritível a despedida de Roberto Dinamite em São Januário. Só quem viveu esse momento histórico sabe o que estou falando. Deus, meu muito obrigado por me proporcionar isso. O link da matéria está abaixo:

https://www.atribunarj.com.br/amigos-fas-e-familiares-dao-adeus-a-roberto-dinamite/

Um ano sem meu pai

 

Por Marcos Vinicius Cabral

"Há um ano que não escuto o portão da garagem se abrir e não vejo mais meu pai chegando tarde da noite trajando aquela camisa vermelha da cooperativa, vestindo calça preta e guardando o carro na garagem depois de mais um dia de trabalho.

O carro, estacionado há um ano no mesmo lugar, parece que continua aqui esperando por ele. Às vezes, meus rompantes saudosistas me fazem acreditar que ele vai chegar!

Há um ano que ele não chega. E quando volto à realidade, sei que não vai mais chegar. Nunca mais!

Mas essa quarta-feira, dia 18 de janeiro, se torna um dia doloroso e inesquecível. Foi neste dia, que meu pai deu entrada no Pronto Socorro Central, no Zé Garoto, com fortes dores no peito e não mais voltou.

Foi neste dia que uma sucessão de erros cometidos pelos funcionários do PSC, nos tirou a possibilidade de cuidar da saúde do meu pai.

Mas hoje é dia também, acredite você que está lendo tamanha verborragia, de lembrar de coisas boas.

Lembrar, por exemplo, quando era taxista, em 2008, recém-saído do jornal O São Gonçalo, na primeira vez que peguei uma corrida para a Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, me perdi na volta e ele, desesperado, me mandava recados pelo rádio PX da Central de Táxi e como não respondia e com o celular desligado, foi atrás de mim.

Coisas de pai. De quem protege. 

É lógico que essa história teve final feliz, mas a bronca nunca mais esqueci: "Sua filha tem um ano, mas quando ela crescer, você vai entender o significado da palavra pai e o porquê fiz isso", foi o que me disse no dia seguinte enquanto conversávamos no ponto de táxi.

Meu pai era assim. Pedra bruta e valiosa. Grosso comigo, mas no fundo me amava à maneira dele.

Entretanto, ainda resiste ao tempo alguns ensinamentos dele, tais como: respeitar os mais velhos, falar sempre a verdade, ser honesto, pontual e fazer o melhor em tudo que eu fosse fazer na vida.

Portanto, hoje, um ano da morte dele, esses ensinamentos compõem o que chamo de "um senhor legado" que faço questão de expressar para que todos saibam que foi o que de mais valioso ele, meu pai, meu amigo e herói, deixou.

Mas meu pai fora querido por muitos e inimigo de poucos, Alicate, como era conhecido no meio dos taxistas, era um sacana de marca maior.

Meu pai era tão parceiro de quem ele gostava que se dava ao luxo de cozinhar e convidar colegas taxistas para almoçarem com ele no sábado ou em um dia qualquer da semana.

"Alicate, você está de parabéns. Que comida gostosa. Não sabia que você cozinhava tão bem assim", era o que ele mais ouvia.

E sei que aquelas palavras, alegravam o coração dele. Ele gostava de elogios. Fazia tudo em excelência para recebê-los. E recebia. Muitos, por sinal.

Mal sabiam eles, que teve uma época que ele era taxista em Niterói e muitas das vezes, acordava às 4 horas para cozinhar e levava quentinhas em isopor para vender para o pessoal na fila de táxi, comerciantes e lojista na Rua da Conceição, no Centro.

Meu pai sempre foi guerreiro. Sempre fez do limão, uma limonada.

Se como taxista e empreendedor foi um sucesso, nos campos de futebol foi um fracasso.

Quando brigava para ser o dono da camisa 1 da extinta Fábrica Fluminense de Tecidos, no Barreto, em Niterói, era um goleiro metido a besta.

Certa vez, no comecinho dos anos 1980, em uma excursão contra um combinado de jogadores amadores de Nova Friburgo - nossa terra Natal - que serviu de preparação para o Campeonato do Sesi, Valdecir, goleiro titular, se machucou e nos minutos finais entrou meu pai no lugar dele.

Na primeira falta a favor do adversário, no meio de campo, corajoso e confiante nas suas qualidades embaixo dos paus, não quis barreira.

O cobrador mandou um 'pombo sem asa' à lá Roberto Carlos que passou igual a um foguete por debaixo das pernas dele.

Que frango! Resultado: 1 a 0 para os donos da casa e o pessoal do time quase bateu nele e eu, com oito anos, senti vergonha em dizer que o meu pai era o goleiro.

Coisas de criança, vai entender.

Mas meu saudoso pai era uma figura e tinha um senso de humor que alegrava qualquer um.

Até Junior, craque do Flamengo e Seleção Brasileira, se amarrou nele, quando estivemos comemorando o aniversário do irmão do Maestro em Copacabana.

Na ocasião, festa restrita a convidados escolhidos a dedo, meu pai colou com um dos irmãos do atual comentarista esportivo da TV Globo e ficou bêbado de tanto uísque.

Na volta para casa, dirigi e ele veio dormindo de Copacabana até São Gonçalo.

Mas meu pai soube viver. Até hoje sinto saudades das broncas que me dava. Sinto saudades do cheiro, da voz e do sorriso dele.

Também sinto saudades das broncas nas netas e do ciúme exacerbado que tinha das ferramentas que até hoje permanecem guardadas no armário construído por ele.

Entretanto, gostava de implicar e tirava sarro com ele. Quando estava de bigode, falava para ele que gostava de vê-lo de barba. De barba, dizia que preferia o bigode ou cavanhaque. E assim foi, até ele ficar com o rosto nu, sem barba e bigode por um bom tempo.

Meu pai era assim. Não havia nele super poderes. 

Não era ágil como o Homem-Aranha, mas escalava paredes pelos filhos.  

Não era Superman, mas sempre foi para nós, um pai de aço. 

Não era o Batman, mas foi um notívago para levar o sustento para casa em épocas de vacas magras.

Ah, meu pai. Queria que estivesse aqui. Sei que ficaria feliz e guardaria todas as matérias que fiz no A Tribuna, principalmente as do Pelé e Roberto Dinamite, o seu ídolo.

Meu pai, sei que não fui um filho tão amado como foram minhas irmãs. Eu sei disso. Mas quero que saibas, que te amei até o último dia de vida".

Dezesseis vezes Gabi

 



Por Marcos Vinicius Cabral

Foi de grão em grão para que a areia presente na ampulheta que determina o tempo, transformasse acontecimentos simples em especiais. 

Até hoje eles são lembrados por mim. Cada um deles é importante e merece ser guardado na prateleira de coisas boas.

Gabrielle chegou na nossa vida em um momento especial. 

Me fez sorrir e chorar ao mesmo tempo na primeira vez em que olhei para ela através do vidro na sala ao lado da de parto quando era pesada por uma enfermeira no Hospital Santa Marta em Santa Rosa, Niterói.

Mas Deus me proporcionou no seu tempo, experimentar a sensação indescritível do que é ser pai de uma menina linda e que completa nesta segunda-feira (16) mais um ano de vida.

Lamento apenas ter sido pai aos 33 anos, mas que miserável sou para questionar o Criador do universo após me presentear com a Gabrielle?

Penso e repenso todos os dias sobre a filha que estou deixando para o mundo. Acho inclusive que é a minha melhor contribuição, já que a Gabi ou Bi - como costumo chamá-la - é uma menina que se preocupa com o próximo, é atenciosa com todos, respeita os mais velhos, é ouvinte de bons conselhos e acima de tudo segue com a espada nas mãos lutando contra o inimigo 24 horas.

Protegida? Sempre. Ela é, posso ratificar, revestida na beleza da santidade de quem se batizou naquele 8 de maio de 2021 e permanece com a couraça da Justiça, equipamento este que compõe a armadura de Deus que todo cristão deve usar.

Mas hoje o dia amanheceu diferente. Minha menina faz aniversário. Moça linda e adorável que todo pai adoraria tê-la como filha.

Mas Deus me olhou, viu em mim um sujeito pecador e apontando o dedo em minha direção disse: "Filho, toma, é tua!".

Recebi minha vitória. Que honra! Que orgulho! Que bênção!

Mas desejo apenas que a aniversariante tenha desejos. Muitos. Milhares. E que sejam realizados!

Eu, seu pai babão e bobão, e sua mãe, puxa-saco, te amamos!

Feliz aniversário!

O Pelé na cobertura esportiva


Por Marcos Vinicius Cabral

Após sofrer infarto fulminante, Gilson Ricardo morreu na noite de domingo (22).

Morreu dormindo. E nunca dormiu nas coberturas esportivas em que participou.

Fosse na Rádio Difusora de Petrópolis, onde iniciou a carreira, na Bradesco Esportes, CNT, SBT, Bandeirantes e Rádio Globo por 35 anos, Gilson Ricardo sempre trabalhou com entusiasmo e fôlego de um garoto que sentia prazer nas coberturas em que era escalado.

Parte da minha infância vai junto com ele.

Poucas não foram as vezes que ouvi no rádio, Gilson Ricardo atrás do gol berrando no microfone:

"Ô, Bebetô! Ô, Bebetô!!! Para com isso".

Gilsão - como era chamado - não foi apenas um craque nas transmissões esportivas. Craques foram os outros. Gilsão foi gênio. 

Esse talentoso petropolitano está na prateleira dos grandes do jornalismo esportivo ao lado de nomes como Fiori Gigliotti, Waldir Amaral, Jorge Curi, José Silvério, Milton Leite, José Carlos Araújo, Washington Rodrigues, Doalcey Camargo, Galvão Bueno, Osmar Santos e Luciano do Valle.

Gilsão, Gilsão, Gilsão...

A Evolução da Comunicação nas Copas do Mundo, título que meu grupo de TCC produziu, me ajudou a conhecer pessoalmente Gilson Ricardo em 2017.

Gilsão foi o último a ser entrevistado por nós - depois de Washington Rodrigues e José Carlos Araújo - e confesso, foi o que mais arrancou risadas da gente. Das entrevistas, foi o material que mais rendeu.

Mas aquela tarde continua sendo inesquecível para mim e acredito que para meus colegas de faculdade.

Não só pela figura bacana que foi conosco naquela oportunidade, mas também pelo conhecimento sobre Copas do Mundo.

Gilsão, para quem não sabe, cobriu algumas e conversou por mais de uma hora conosco sobre o tema.

"A seleção de 70 é incomparável. Foi a melhor de todas. Mas o futebol arte não existe mais por causa da seleção de 82. Se o time de Telê ganha, até hoje teríamos magia nos jogos", revelou.

Sobre a Copa de 86 ele foi curto: "Foi uma sacanagem o que o futebol fez com Zico", disse referindo-se ao pênalti perdido contra a França.

"Pula essa. Terrível. E um dos piores mundiais", disse sobre 1990.

Mas passeamos por outras copas, mas essas três lembro com exatidão o que ele disse.

Trocamos números de telefones e meus textos sempre eram enviados para ele. Era curto e seco se não gostasse e sacana às vezes também.

Mas sempre dava uma opinião do que eu escrevia. O mais recente, um Flamengo e Botafogo, em que o goleiro Borrachinha, com defesas milagrosas apagou Zico & Cia com gol de Renato Sá em 1979.

Rubro-Negro e piadista dos bons, disse que no Rio só tem dois tipos de ladrões conhecidos de 'geraldinos' e 'arquibaldos': Sérgio Cabral e o Flamengo", contou dando aquela gargalhada e arrancando gargalhadas entre nós.

Era difícil falar sério com Gilsão. Mas conseguimos. E a banca nos deu a nota 10.

O radiojornalismo perde uma figuraça, mas acima de tudo um grande ícone do jornalismo esportivo.

No futebol que se joga no céu, Deus chamou Gilsão, um craque, para entrevistar outros tantos craques. Recentemente dois maiores camisas 10 do futebol mundial: Pelé e Roberto Dinamite.

Afinal de contas, de que vale uma bela partida no céu sem a cobertura de um repórter talentoso como Gilson Ricardo.

Não se faz mais artista como antigamente

Por Marcos Vinicius Cabral 

A frase "Por favor, deixem seus egos do lado de fora ao entrar", colada na porta do A&M Studios em Hollywood, na Califórnia, dava sinais claros que os 45 artistas que participavam da ação humanitária USA For África, tema da canção We Are The World, que completa 38 anos neste sábado (28), não estavam ali de brincadeira.

Composta por Michael Jackson e Lionel Richie e sob a batuta de Quincy Jones, a canção se transformaria em um hino até hoje lembrado.

Naquela noite, a partir de então, vidas foram mudadas com a arrecadação de milhões de dólares em prol da campanha.

Estou escrevendo sobre um marco musical histórico de 1985. 

Foi legal ver na abertura do clipe o globo terrestre girando, se transformando em um pano branco com letras garrafais escritas USA FOR ÁFRICA e os autógrafos das estrelas surgindo.

Mas foi legal ver também artistas da estirpe de Bob Dylan, Cyndi Lauper, Al Jarreau, Tina Turner, Billy Joel, Dionne Warwick e tantos outros, abraçarem a causa.

Bacana demais o dueto de Bruce Springsteen com Stevie Wonder e no final da canção a belíssima sonoridade com Ray Charles.

Boas ações pararam no tempo.

Décadas depois, os artistas não se movimentam por uma boa causa e o que mais se vê são cantores sem nenhuma relevância discursando nas redes sociais, principalmente no Twitter, sobre assuntos que desconhecem por completo.

E o pior é que, desta forma, não tem um ato altruísta para matar a fome de alguém e mudar a vida de ninguém.

Tudo é um ego somado à estratégia da assessoria de imprensa para maquiar a falta de talento, justificando a busca cada vez mais desesperada por holofotes e likes, muitos likes.

Já não importa o que você canta, mas sim a qual discursinho fajuto você está alinhado.

Bom, se no meio do Twitter, Instagram e YouTube surgir um novo Bob Dylan, um Kenny Rogers ou algo minimamente próximo de Michael Jackson, me avisem, por favor!

Até lá, fico assistindo de camarote a música empobrecida e artistas definhando em melodias pobres.