QUANDO
O FIM É O COMEÇO
Por
Marcos Vinicius Cabral
17.02.19
Eram
13h50 quando entrei naquele lugar.
Debrucei-me
sobre uma das janelas e observei o formigueiro de gente que passava nas ruas.
Sensação
estranha, convenhamos, pois muitos lá embaixo e eu sozinho lá em cima.
Virei-me
e de frente ao enorme vazio, comecei a pensar nos caminhos que o jornalismo está
tomando com essa ferramenta chamada internet, atribuída ao inventor inglês
Timothy John Berners-Lee, que é também físico e cientista da computação.
Visivelmente
triste - na segunda-feira havíamos perdido Ricardo Boechat em um trágico
acidente aéreo
Sentado
no chão, fechei os olhos e divaguei fatiando instantes em momentos vividos
naquele lugar.
Todavia,
sentí falta de muitas coisas nessas duas passagens pelo jornal de quase um
século de existência.
Fui
chargista dele de
Notei
a ausência do som dos telefones tocando, quando sempre chegavam denúncias de um
(a) morto (a) e que teria a cobertura de uma equipe, independente do horário.
Um
pouco mais à frente, à direita, na sala de escuta, uma saudade do repórter
Augusto Aguiar, que ficava regulando o rádio de comunicação.
Lembrei-me
da forma comprometida de Dayse, da inquietude da Sany, do faro por notícias de
Jefferson, da simplicidade dos Antônios: Figueiredo (que caminhava com certa
desenvoltura no terreno inóspito da Política de São Gonçalo) e Puga (que fazia
a Geral).
Do
saudosismo de Maurício Ferreira, Ricardo, Léo, Júlio Brazil e Assuéres, e
enxuguei minhas lágrimas em uma das mangas da minha blusa.
Recordei-me
de outras pessoas bacanas como Tatiane, Eloísa - chamada por mim carinhosamente
de Heleninha, personagem de Renata Sorrah na novela Vale Tudo e que nos deixou
recentemente -, Marcia Nascimento, o fotógrafo Sidney (que nunca mais tive
notíciais), Marcos Sanches e Renato Seixas, que era para nós, o filho bastardo
de Tiãozinho, o diagramador que reclamava de tudo e com todos
E
por falar em Tião, lembrei das charges que fazia dele, assim como dos sambas
que cantávamos juntos - muitos deles de Agepê e Benito di Paula - antes de
desempenharmos nossas funções na empresa.
Não
esqueci do sorriso de Ivan Roubier, da tranquilidade de Marcelo Benítez, do
jeito calado de Edir Lima, da voz firme de Nelson Eiras e de Sérgio Meirelles,
que bateram asas e voaram para céus de outros ares.
De
Fabinho a Joubert, passando por Lili, Deork e Danoninho, seres com
personalidades distintas e bons profissionais.
Dos
malucos Alexandre Tavares e Ângelo Barsi, que já se foi deste mundo, que
confundiam os sábios com suas esquizofrenias.
De
dona Jean, de Dalma e de Robertinha, iniciando sua trajetória cobrindo Polícia
e dos vascaínos que eu mais respeitava naquele lugar: Giovanni Pagotto,
Henrique Morais e Gustavo Carvalho.
Veio-me
à mente, o motorista Alexandre, vulgo Grilo, que várias vezes me chamava para
tomar café na cozinha e xingava meio mundo em virtude de ter pauta quase na
hora dele ir embora.
Já
o Alexandre, o Braga, outro motorista, que sorria e fazia questão de me abraçar
cada vez que me via.
Do
Miranda, que chamava todos por Jogador e do tio Carlos, que me dava uns tapinha
nas costas.
Do
piloto de fuga Waguinho, que a cada saída era um teste para cardíaco. Quem
nunca viveu essa louca experiência?
Também
da calmaria de Adir, de fala mansa e olhar atencioso, que me chamava de
"Meu bom".
Lembrei-me
também de Delédio Santanna, que do jeito dele com histórias que rendiam boas
gargalhadas.
De
Riquinho que nunca mais vi e de Néris, que virou taxista.
Não
deixei de lembrar dos esbarrões que os fotógrafos davam uns nos outros, na
correria para descarregar o material fotográfico e irem embora para casa.
Alcyr
e o falecido Jacozinho sempre eram os últimos, enquanto Sandro, Alex, Andréia,
Robert, Ackermann e Aloíno, já haviam partido.
Pensei
também
Até
minha exposição individual de caricaturas no Flamengo eu lembrei, em que o
Moskov fotografou e Patrick Guimarães fez a cobertura.
De
Arthur Rosa e seu humor ácido, de quem perdia o amigo, mas não a piada.
Das
partidas que valiam vale-transporte em que nós, eu e Renato Fonseca, jogávamos
nas escadas do prédio, antes de descer para racharmos um angu à baiana.
Flávio
e França, figuraças, quando líamos um para o outro os nossos poemas inspirados
pelas canções de Renato Russo e Cazuza, nossos poetas da Geração BRock.
Do
talentoso Carlos Brito com as palavras e que assim como eu, adora o Batman.
Do
dedicado Rafael Casado, a quem ajudei a fazer a matéria do sequestro do ônibus
174, já que o Sandro Nascimento (não o excelente fotojornalista), era meu
vizinho na rua em que moro até hoje.
Mas
também lembrei de uma galerinha boa como Alexandre Recife, Marcelo, Marcela
Freitas.
Saudades
de ouvir "primeirinha, primeirinha, primeirinha", dita por Celso a
Jorge, que era incumbido de fazer a capa, página considerada a mais importante
do jornal.
De
Waltinho, que subia do arquivo no sétimo andar e avisava que estava indo
embora.
Ah,
tantas e tantas e tantas saudades.
Lembrei
Alan, fazendo macaquinho e Rogério com seu pragmatismo peculiar.
Do
tricolor Ari, nosso editor e depois diretor e das conversas sobre coisas da
vida. Mário, Natália e Dudu, estes dois estão juntos até hoje em nome do amor.
Sem esquecer Cadinho e Beth.
Em
um estalo, lembrei-me de Thiago Couri colocando o café no congelador para
esfriar e apertando as orelhas de quem ele sentia vontade.
De
olhos fechados, lembrei-me das charges finalizadas, quando ficava em cima de
Júnior e PC para dar um tratamento no photoshop antes de ir à primeira e de
Fábio Cotrin, que observava rindo por dentro o meu nervosismo.
Recordei
Juliana, calmamente se despindo do crachá e o colocando em armário dela e de
Kiko Charret olhando para trás desconfiado antes de descer.
Imaginei
Wilton, Gil, Marcele, Roberta e Livia Mendonça - essa mesma que apresenta o
Balanço Geral na Record - que faziam o Caderno de Modas e ficavam no fundo à
esquerda, no cantinho mais disputado da redação.
De
Thais Dias, hoje na TV Bandeirantes, que passou por lá, assim como Léo Barros,
Flávio Amaral, Vivi Romero, Nathalia Nascimento e André Luiz Viannay.
Aparecida,
Lázaro, Rosane e Arizete, essas duas, figuraças da limpeza.
De
Rodrigo Fontes, que me chamava de "Cabeça", e de Fernandinha que me
chamava carinhosamente por "Vini".
E
lembrei de Simone Ronzani, de Simone Terra, de Rainer, e de Simoninha.
Pensei
em Dalma, Viviane Biteti, no louco do Roberto Costa e
Não
esqueci também de Roberto Moreyra, Julio Diniz, Tiago do arquivo, de Izabel,
Roberto e Júlio.
Lembrei-me
do pessoal do comercial, chefiados por Luiz, botafoguense, mas apreciador do
bom futebol.
Da
galera mais nova como Thuany, Tiago, Dani, Filipe Aguiar, Ferraz, Renata Sena,
Alex Ramos, Rodrigo Travassos, Silvia Jany e Stefanini.
Não
deixei de fora das lembranças Mario Salgado, Marcelo Paranhos, Sérgio Renato e
de Recife.
Outros
tantos lembrei, no entanto, não recordei-me do nome.
Portanto,
em 30 minutos aproximadamente, passou um filme na minha cabeça.
Ali,
há bem pouco tempo atrás - não sei precisar ao certo - funcionava a redação do
jornal O São Gonçalo.
Era
uma quinta-feira, 14 de fevereiro.
Sobravam
fios e faltavam pessoas.
Havia
muita sujeira e um espaço sem vida.
Sonhos
viraram pó.
Era
um jornal e hoje não é mais.
Lembranças, por mais que dolorosas, são o que restam daquele lugar.
Um comentário:
Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe. A vida é uma dinâmica para viver a cada momento com a maior intensidade possível. Belo texto.
Grande abraço.
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