"Neste sábado (25), a emoção tomou conta do Centro de Futebol Zico, no Recreio dos Bandeirantes, com a entrega de uma cadeira de rodas motorizada para Sandro Rilho.
A ação, realizada pela FlaResende e FlaCampos, duas embaixadas espalhadas pelo Brasil vermelho e preto, tem o objetivo de facilitar a locomoção diária do nosso querido Sandrão.
A partir de agora, o semovente rubro-negro que é um notório colaborador para a memória do clube, poderá realizar visitas às sessões de fisioterapia sem gastar tanta energia, desprender o suor imerecido do rosto áspero com a barba por fazer e não mais pensar em desistir como imagino que em muitas vezes tenha encenado o ato.
Não, Sandrão, o jogo não acabou e muito menos é hora de entregar os pontos.
São 90 minutos. Tudo pode acontecer.
É você contra sua (por enquanto) limitação. É você disputando a bola contra o carrasco do desânimo, do marcador implacável chamado depressão, do zagueiro viril chamado tristeza.
O adversário é forte. O time deles quer anular você, porque sabe que você decide, é craque e é o cara.
O jogo é truncado, estudado, estratégico, marcação em cima e não tem o VAR para elucidar lances duvidosos.
Não esmoreça com o que está ao seu redor.
Não se enfraqueça por palavras negativas de quem não venceu a morte como você venceu.
Não se desfaleça. Muitos planos e projetos Deus tem para a sua vida.
Não permita-se desbotar o brilho que existe em seus olhos e que se torna lindo quando um busto é inaugurado ou uma outra ação qualquer é realizada pelo FlaNação.
Você não está sozinho nessa. Pergunte ao Raul se foi fácil ser o goleiro que foi na história rubro-negra tendo que aturar os insultos e xingamentos atrás do gol vindos da torcida adversária?
Fala para o Leandro, que jogou no clube que tanto amou por 12 anos convivendo com o Mal do Cawboy nas pernas, que você pensou em desistir do jogo.
Explique para o Marinho - que faz 68 anos na segunda-feira (27) - e o Lico, que saíram de Londrina e Joinville apostando apenas no talento deles para vencer no Flamengo, que você não creu que venceria a batalha ao derrotar o Covid-19.
Desabafe com Junior e Andrade que você ficou longe de muitas pessoas que te amam enquanto esteve em coma, no entanto, não esqueça que o Maestro ficou longe cinco anos no futebol italiano e o Tromba foi jogar no Universidad de Los Andes, na Venezuela.
Mas se mesmo assim não estiver convencido do quão és vitorioso, lembre-se de Adílio que saiu da Comunidade da Cruzada de São Sebastião, no Rio, entre Ipanema e Leblon e venceu a pobreza e o preconceito racial para chegar onde chegou.
Ah, Sandrão, meu amigo angolano, esse jogo não é apenas seu. É de todos nós, somos um time!
Confidencie com Tita que você, às vezes, fica desconfortável pelo jeito como os rubro-negros te olham. Entretanto, o eterno camisa 7 rubro-negro vai te dizer com propriedade o que é viver isso quando ele encobriu o rosto com a camisa do Vasco e marcou o gol do título do Carioca em 1987. Ele continuou sendo ídolo do clube. E você se transformou em ídolo dele.
Sandrão, quando pensamentos negativos se apresentarem nessa sua 'nova' vida, mate do peito e saia para o jogo como bem fazia Mozer, nosso xerifão.
Mas se as adversidades se tornarem marcadores implacáveis, que você como grande craque que é, drible-as e siga o exemplo de Zico que superou tudo com força, humildade e profissionalismo e foi determinado e obstinado até tornar-se o maior do Flamengo.
Depois disso, meu caro Sandro Rilho, tenho certeza que você vai sair dessa cadeira de rodas e marcar gols importantes como o nosso artilheiro Nunes fez em jogos decisivos.
Desejo o melhor para você e nada mais justo, afinal de contas, Sandrão sempre foi um torcedor apaixonado pelo clube e irrequieto quando o assunto é valorizar ídolos do Flamengo do passado".