Por Marcos Vinicius Cabral
O amor intrínseco, impoluto e imedido de Mainha e Gildo foi o suficiente para trazer Leovegildo Lins Gama Junior ao mundo naquele 29 de junho de 1954.
Não tivesse nascido homem e corrido descalço atrás de uma bola ainda menino pelas ruas de terra batida em João Pessoa, na Paraíba, Junior quiçá teria sido um grão de areia esfregado entre os dedos por quem acabara de conhecer o mar pela primeira vez e não jogador de futebol.
Quis o destino, que sempre teve nas mãos acontecimentos antes mesmo deles acontecerem, que Junior confessasse com os próprios pés - diferentemente dos mortais que professam com a boca - que nascera para cultivar a imortalidade.
Imortalidade esta adquirida à custa de dedicação, esforço, treinamento, além é claro, do talento que o acompanhou como a própria sombra.
Mas nada disso valeria a pena se não fosse frequentador das praias do Rio de Janeiro, local onde mostrou a habilidade que, modéstia à parte, chamou atenção de um outro modesto, o treinador Bria.
Levado à Gávea no início dos anos 1970, ser aprovado para fazer parte do elenco rubro-negro seria mero detalhe. Da camisa 4 que vestiu no começo de carreira na lateral-direita do Flamengo, Junior buscou aperfeiçoamento. E conseguiu!
Em busca de afirmação, encarou com naturalidade a chegada de Toninho Baiano para assumir a lateral-direita. Relegado a ser reserva e aceitá-la, disputar a titularidade seria normal para qualquer um. Menos para Junior.
Mas o Capacete - apelido que recebeu graças ao estilo black power da época - buscou soluções. Uma delas foi treinar exaustivamente batendo na bola apenas com a perna esquerda no paredão de madeira que existia na Gávea.
Ambidestro e vestindo o número 5 rubro-negro, Junior se tornou absoluto na lateral-esquerda quando improvisado por Cláudio Coutinho (1939-1981) em 1976, não mais saiu do time. Por ali, defendeu o Flamengo em 874 partidas, enfilerou troféus, se tornou referência na posição e passou a ser ídolo da exigente torcida rubro-negra.
Mas aquele paraibano merecia muito mais do que ser gigante apenas no Flamengo. Merecia sorte maior na Seleção Brasileira no qual, não encantou o mundo com a camisa 5 - esta pertencia ao eficiente Toninho Cerezo -, mas com a 6 às costas, sambou duas vezes em gramados espanhóis: no gol marcado contra a Argentina, em passe açucarado de Zico na vitória por 3 a 1 e, na derrota para a Itália, que culminou - coincidentemente, vejam vocês - no 5° lugar na classificação final da Copa da Espanha, em 1982.
Sorte a nossa que tivemos Junior no Flamengo e má sorte da Seleção Brasileira, que não teve um jogador como Leovegildo Lins Gama Junior campeão do mundo.
Números, títulos, recordes, prêmios individuais, idolatria, carinho e respeito marcam a trajetória deste que foi - diferentemente de Nilton Santos, a Enciclopédia do Futebol -, um bom livro de autoajuda para quem escolheu ser lateral-esquerdo em um time de futebol.
Parabéns meu amigo Junior, dos quais 11 anos destes 69 que você completa nesta quinta-feira (29), desfruto da amizade de quem é mais do que um ídolo do Flamengo, mas acima de tudo, um ser humano sem igual.
Maestro, parabéns e que Deus lhe abençoe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário