sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Barco vazio

Texto e foto de Marcos Vinicius Cabral

"Há quase 730 dias que estou recluso, deitado no fundo de um barco vazio e, introspectivo, no meio de um mar chamado frustração. De olhos fechados não observo nada ao redor e nem me vejo. Apesar das ondas molharem as pontas dos meus dedos das mãos a fim de provocar em mim a desatenção que o destino quer, permaneço intocável e insensível. E continuo de olhos fechados! Mas perco a beleza da vida quando não vejo o céu azul com as nuvens parecidas com algodão, não sinto o calor do sol que esquenta meu corpo, e não ouço o ruído das asas das gaivotas que ensaiam o balé contumaz que nada mais é, para quem aprecia com moderação as belezas da vida, do que a personificação de um voo para um lugar distante.

A cena, por mais absurda que pareça, me faz conviver com o som imperturbável do silêncio. E é em cada um destes sons, que sinto a presença e a ausência que meu pai faz.

Meu pai nunca gostou do nome de batismo e sempre que perguntavam "como o senhor se chama?", ele desconversava e respondia "José". Na verdade, era o sobrenome dele. Mas o ele gostava de verdade era em ser chamado pelo apelido de Alicate que, segundo ele mesmo, foi herança dos tempos de quartel quando vivia indo buscar alicate na oficina a pedido dos sargentos, tenentes e coronéis. Daí, de tanto pegar alicate para os superiores, transformou-se em um e carregou a alcunha até a nefasta tarde do dia 18 de janeiro de 2022, último dia de vida dele.

Mas a ausência de Alicate na minha vida me recoloca, sempre que lembro dele e dos entreveros que tivemos na difícil e conturbada relação pai e filho, no fundo daquele barco. É lá, que vira e mexe, estou com os olhos fechados, alisando a 'testa' do mar e lembrando dos momentos que passei ao lado dele.

Alicate viveu a vida com a tranquilidade de quem dirigiu por muito tempo um táxi. Acreditava em Deus e não deixava o medo de morrer ser maior do que as risadas que deu com muitos outros taxistas nos PA's por onde deixou saudades. Era alternância nas pequenas coisas. Vivia o opróbrio com pombos, detestados por ele, mas era capaz de jogar pipocas para as desprezadas aves do quintal de casa e, com esta atitude, tornava-se um zeloso columbófilo para quem via a cena. Não se preocupava em cuidar da saúde e acabou surpreendido por um infarto agudo do miocárdio.

Destemido, às vezes, confesso, Alicate era engraçado. Inteligente demais. O que se colocava as mãos para fazer, executava com a perfeição da falta cobrada por Zico no ângulo. Ou melhor, cobrada por Roberto Dinamite, ídolo dele já que era vascaíno por convicção.

Mas no próximo dia 18 de janeiro, o luto pelo desaparecimento físico do meu pai completam dois anos. São janeiros que lembro sempre, pois Deus me trouxe Gabrielle, minha adorável filha, e levou meu pai, lembrado e amado por todos. Ironias de um destino que Deus, sabe-se lá por qual motivo, permitiu acontecer. Não reclamo. Nem posso. Resta-me aceitar.

Mas quando Deus percebe minha aflição e nota tristeza em meu olhar, permite que sonhe com meu pai. Até certo ponto, isto desacelera meu coração, conforta meu espírito, e faz seguir em frente. No entanto, quando o efeito do conjunto de imagens, de pensamentos ou de fantasias que se apresentam à mente durante o sono acaba com o nascer do sol na manhã seguinte, caminho lentamente para o cais, retiro a corda do barco, deito no fundo dele, fecho os olhos e vou contemplar a beleza do vazio das coisas que me circundam.

É ali, no silêncio das minhas ações que meu pai - que ironicamente preferia o som das coisas - está. Isto é o suficiente. E é, não tenho dúvidas, um bálsamo para essa dor aqui dentro de mim que se chama saudades".

Mundial não é para fracos


Por Marcos Vinicius Cabral

"Esperei o hiato entre o Natal e a chegada de 2024 para escrever sobre o tão aguardado confronto entre Manchester City (ING) e Fluminense (BRA), na decisão do Mundial de Clubes de 2023. Duas escolas que contam com ensinamentos dos professores Josep Guardiola e Fernando Diniz, técnicos que surfam na crista da onda ao conquistar bons resultados com os respectivos times. Além disto, relembro aqui que dos clubes brasileiros derrotados em finais para europeus na competição que colocam frente a frente o campeão da Libertadores contra o vencedor da Champions League, o Vasco de Antônio Lopes é, segundo reportagem do GloboEsporte.com, quem mais esteve perto da vitória. O 2 a 1 para o temido Real Madrid (ESP), em 1998 - ano em que o Cruz-Maltino comemorou um século de existência - não refletiu o que se viu no National Stadium, em Tóquio, naquela manhã de 1° de dezembro. 

Entretanto, desde a derrota por 4 a 0 para o Manchester City, na final do Mundial de Clubes realizada no dia 22 de dezembro, que torcedores do Fluminense - não todos, mas boa parte deles -  diziam que houve equilíbrio nas ações do time comandado por Fernando Diniz.

Ora, o que se viu no gramado do Estádio King Abdullah Sports City, em Jidá, na Arábia Saudita, foi a equipe inglesa com 55% de bola nos pés, que chutou em oito oportunidades para gol (quatro vezes mais que as duas do ataque tricolor), trocou 530 passes contra 444 do campeão da Libertadores e cobrou quatro escanteios contra dois do Fluminense. Há outras comparações que poderia utilizar, mas os já apresentados aqui dão a nítida noção do que foi o jogo.

Acostumados com o tiki-taka (tic-tac aportuguesado), também conhecido como Dinizismo, o estilo do Fluminense passa a ter mais rotatividade entre os jogadores, constantes trocas de posições e passes em todas as zonas do campo (principalmente na defesa para surpreender o adversário) no qual até o goleiro passa a ter a função de jogar com os pés. E com qualidade, é bom que se diga.

Funcionou bem em algumas competições em que conquistou títulos - por exemplo, no banho de bola que deu no Flamengo no Carioca e na inédita Libertadores, ambas em 2023 - mas na hora do vamos ver, acabou sendo engolido pelos ingleses. Isso sem contar que Haaland e De Bruyne, protagonistas dos Azuis Celestes, não jogaram por estarem lesionados.

Guardiola pensa diferente. Para o fã da Seleção Brasileira de 82, o estilo de jogo é "inútil", "sem propósito" e "sem intenção clara". Basta ler a biografia The Inside Story of Pep Guardiola's First Season at Bayern Munich (Os bastidores da primeira temporada de Pep Guardiola no Bayern de Munique), escrita pelo jornalista espanhol esportivo Marti Perarnau. 

No entanto, o tão aguardado embate Diniz versus Guardiola, acabou frustando os apaixonados pelas duas escolas de futebol. O City venceu sem esforço. O Tricolor errou o máximo em uma partida que deve-se errar o mínimo. Tornar-se presa fácil era questão de tempo, não de segundos como foi o gol de peito de Julián Álvarez.

Porém, quem deu trabalho aos europeus em uma decisão de Mundial de Clubes que, a propósito, voltando ao motivo da produção do texto, foram dois grandes times cariocas que encantaram os torcedores nos séculos XX e XXl: o Vasco de 1998 e o Flamengo de 2019, já citados acima.

Comandados por Antônio Lopes e Jorge Jesus, Vasco e Flamengo conquistaram a Libertadores, e chegaram com moral elevada à decisão do Mundial de Clubes contra espanhóis e ingleses.

O Vasco, que comemorava o centenário de existência, entrou às 9h (horário de Brasília) no National Stadium, em Tóquio, com Carlos Germano, Vágner, Odvan, Mauro Galvão e Felipe; Nasa, Luisinho, Juninho Pernambucano e Ramón; Donizete e Luizão. Do lado do time madrilenho, os brasileiros Roberto Carlos e Sávio, o argentino Redondo, o holandês Seedorf, o espanhol Raúl, além do montenegrino Mijatovic.

Mas foi o Real Madrid quem abriu o placar aos 25min do primeiro tempo, quando Roberto Carlos chutou com força de fora da área, a bola desviou na cabeça de Nasa e enganou Carlos Germano. No segundo tempo, Juninho Pernambucano, o Reizinho da Colina, aproveitou rebote do goleiro alemão Ilgner no chute de Luizão para finalizar no ângulo. Mas aos 38min, porém, veio o castigo. Raúl recebeu lançamento de Seedorf pelo lado esquerdo do ataque, deu dribles desconcertantes em Vitor e Odvan antes de tocar na saída de Carlos Germano. Fim do sonho para uma equipe que mereceu sorte melhor durante os 90min.

O Flamengo, por sua vez, chegava à segunda decisão de Libertadores da história. Com um futebol que assombrou o país, Diego Alves, Rafinha, Pablo Marí, Rodrigo Caio e Filipe Luís; Willian Arão, Gerson, Arrascaeta e Everton Ribeiro; Bruno Henrique e Gabigol, sob comando de Jorge Jesus, conquistaram a Taça Libertadores da América, o Campeonato Carioca, e, por fim, o Campeonato Brasileiro, em 2019.

A derrota por 1 a 0 para o Liverpool de Jurgen Klopp, no Estádio Khalifa International, em Doha (Catar), em um jogo disputado, pôs uma pá de cal e sepultou o sonho do bicampeonato Mundial para a Nação Rubro-Negra.

Tristezas à parte na vida dos vascaínos, rubro-negros e tricolores, derrota sempre machuca, fere o orgulho de todo e qualquer torcedor. Todavia, o mau resultado do Fluminense doeu mais do que os insucessos de Vasco e Flamengo. Ou alguém pensa diferente? Fica uma lição não apenas para o time das Laranjeiras, mas para os clubes do futebol brasileiro: é preciso rever conceitos de A a Z e em todo planejamento para voltar a competir de igual para igual em uma decisão de Mundial de Clubes. 

Talvez esta (in)certeza soe - para quem é frio e não passional - como uma alerta de que jogar o Mundial de Clubes não é para fracos".

quarta-feira, 28 de junho de 2023

Junior


Por Marcos Vinicius Cabral

O amor intrínseco, impoluto e imedido de Mainha e Gildo foi o suficiente para trazer Leovegildo Lins Gama Junior ao mundo naquele 29 de junho de 1954.

Não tivesse nascido homem e corrido descalço atrás de uma bola ainda menino pelas ruas de terra batida em João Pessoa, na Paraíba, Junior quiçá teria sido um grão de areia esfregado entre os dedos por quem acabara de conhecer o mar pela primeira vez e não jogador de futebol.

Quis o destino, que sempre teve nas mãos acontecimentos antes mesmo deles acontecerem, que Junior confessasse com os próprios pés - diferentemente dos mortais que professam com a boca - que nascera para cultivar a imortalidade.


Imortalidade esta adquirida à custa de dedicação, esforço, treinamento, além é claro, do talento que o acompanhou como a própria sombra.

Mas nada disso valeria a pena se não fosse frequentador das praias do Rio de Janeiro, local onde mostrou a habilidade que, modéstia à parte, chamou atenção de um outro modesto, o treinador Bria. 

Levado à Gávea no início dos anos 1970, ser aprovado para fazer parte do elenco rubro-negro seria mero detalhe. Da camisa 4 que vestiu no começo de carreira na lateral-direita do Flamengo, Junior buscou aperfeiçoamento. E conseguiu!

Em busca de afirmação, encarou com naturalidade a chegada de Toninho Baiano para assumir a lateral-direita. Relegado a ser reserva e aceitá-la, disputar a titularidade seria normal para qualquer um. Menos para Junior.

Mas o Capacete - apelido que recebeu graças ao estilo black power da época - buscou soluções. Uma delas foi treinar exaustivamente batendo na bola apenas com a perna esquerda no paredão de madeira que existia na Gávea.

Ambidestro e vestindo o número 5 rubro-negro, Junior se tornou absoluto na lateral-esquerda quando improvisado por Cláudio Coutinho (1939-1981) em 1976, não mais saiu do time. Por ali, defendeu o Flamengo em 874 partidas, enfilerou troféus, se tornou  referência na posição e passou a ser ídolo da exigente torcida rubro-negra.

Mas aquele paraibano merecia muito mais do que ser gigante apenas no Flamengo. Merecia sorte maior na Seleção Brasileira no qual, não encantou o mundo com a camisa 5 - esta pertencia ao eficiente Toninho Cerezo -, mas com a 6 às costas, sambou duas vezes em gramados espanhóis: no gol marcado contra a Argentina, em passe açucarado de Zico na vitória por 3 a 1 e, na derrota para a Itália, que culminou - coincidentemente, vejam vocês - no 5° lugar na classificação final da Copa da Espanha, em 1982.

Sorte a nossa que tivemos Junior no Flamengo e má sorte da Seleção Brasileira, que não teve um jogador como Leovegildo Lins Gama Junior campeão do mundo.

Números, títulos, recordes, prêmios individuais, idolatria, carinho e respeito marcam a trajetória deste que foi - diferentemente de Nilton Santos, a Enciclopédia do Futebol -, um bom livro de autoajuda para quem escolheu ser lateral-esquerdo em um time de futebol.

Parabéns meu amigo Junior, dos quais 11 anos destes 69 que você completa nesta quinta-feira (29), desfruto da amizade de quem é mais do que um ídolo do Flamengo, mas acima de tudo, um ser humano sem igual.

Maestro, parabéns e que Deus lhe abençoe.

domingo, 9 de abril de 2023

A mentira de que "ganhar Fla-Flu é normal"

Por Marcos Vinicius Cabral

Escrevo antes da 13ª decisão entre Flamengo e Fluminense no Campeonato Carioca de 2023. Penso que, neste domingo (09), às 18h (horário de Brasília), a Justiça (se é que ela existe no futebol) prevalecerá no resultado.

Flamengo e Fluminense são os melhores times do Rio de Janeiro. Há um equilíbrio entre eles. O time de Vítor Pereira é mais qualificado, mas os 11 de Fernando Diniz vivem melhor momento. Quando se encontram, tudo pode acontecer. Isso vem se repetindo há quatro anos, quando o Fla ganhou em 2020 e 2021. Ano passado, o Flu evitou o tricampeonato rubro-negro e é, com sobras e merecidamente, o atual campeão Estadual.

Escrevo sem saber se o Mais Querido vai conquistar o 38° título e levá-lo para a Gávea. Ou se o Tricolor das Laranjeiras vai reverter a desvantagem e erguer o 33° troféu da história.

Independentemente das provocações entre torcedores que são, no meu entendimento, necessárias para o futebol. O mundo está chato demais. Imagina se não tiver provocações entre rubro-negros, tricolores, alvinegros e vascaínos?

O encarnar e o tirar sarro, faz parte quando se descortina o espetáculo que é o futebol. O que não condiz são os exageros e  o momento em que alguns torcedores passam do limite.

Mas o pior é a mentira deslavada que alguns deles contam. Especialmente tricolores - não todos, mas alguns em especial - são experts em propagar inverdades. O próprio ditado resume o que Joseph Goebbels, ministro da propaganda na Alemanha nazista, permitiu na reflexão acerca do papel das fakes news na sociedade: "Uma mentira dita mil vezes torna-se verdade". 

Por muito tempo ouvi de torcedores tricolores e engoli a seco que "o Flamengo 'tremia' para o Fluminense". Que "o time de Zico e companhia era freguês!". Ou então que "Assis era carrasco do Flamengo".

O tempo passou, me despi da pessoa comum e ao tornar-me jornalista o clarão de luz veio sobre os fatos.

NÃO HÁ, NUNCA HOUVE E JAMAIS HAVERÁ no Fla-Flu freguesia de qualquer que seja o lado. Vejam bem: refiro-me às finais e não confrontos entre eles.

Em finais, decisão de um contra o outro, estão empatados em 6 a 6. O título de 1919, não entra, pois o futebol não havia entrado na 'Era do Profissionalismo'. Muito menos o triangular de 1983, como alguns colegas insistem em colocar na conta do Fluminense.

O triangular entre Flamengo, Fluminense e Bangu, o time das Laranjeiras sagrou-se campeão e uns pseudônimos 'donos da verdade' propagaram que esse título foi em cima do Flamengo.

Tanto não foi que o Fluminense se garantiu no triangular final do Estadual, ao lado do Flamengo, que era o campeão da Taça Rio, e do Bangu, que somou o maior número de pontos no torneio.

Com isso, na primeira partida, empatando com o Bangu por 1 a 1, o Fluminense levou a suposta decisão para o jogo contra o Flamengo, que mesmo sem Zico, era favorito ao título do Carioca de 1983. Na partida, nos minutos finais, Duílio cobrou falta rápida para Deley, que fez lançamento para Assis - que virou na opinião dos tricolores o carrasco dos rubro-negros - marcar o gol. 

Com esse resultado, o Flamengo foi eliminado. Não perdeu o título. O que restava ao Fluminense era torcer para a vitória do Rubro-Negro contra o Bangu, no dia 14 de dezembro de 1983. E isso aconteceu. O Flamengo venceu o time de Moça Bonita por 2 a 0 e, na tribuna do estádio, o Flu recebeu a taça de campeão.

Para os desavisados e para os propagadores de 'fake news', aqui está a lista dos jogos que são computados como disputa entre Flamengo e Fluminense.

No histórico geral do Fla-Flu, o Flamengo leva vantagem sobre o Fluminense: 161 vitórias do Fla, 141 empates e 140 vitórias do Flu, já contabilizando a partida de ida da decisão do estadual de 2023, vencida pelo Rubro-Negro por 2 a 0.

Quando o assunto é final do Carioca, porém, os números são mais equilibrados. 

Títulos do Flamengo sobre o Fluminense:

1963: Flamengo 0 x 0 Fluminense

1972: Flamengo 2 x 1 Fluminense

1991: Flamengo 5 x 3 Fluminense (1 x 1 e 4 x 2)

2017: Flamengo 3 x 1 Fluminense (1 x 0 e 2 x 1)

2020: Flamengo 3 x 1 Fluminense (2 x 1 e 1 x 0)

2021: Flamengo 4 x 1 Fluminense (1 x 1 e 3 x 1)

Títulos do Fluminense sobre o Flamengo:

1936: Fluminense 7 x 4 Flamengo (2 x 2, 4 x 1 e 1 x 1)

1941: Fluminense 2 x 2 Flamengo

1973: Fluminense 4 x 2 Flamengo

1984: Fluminense 1 x 0 Flamengo

1995: Fluminense 3 x 2 Flamengo

2022: Fluminense 3 x 1 Flamengo (2 x 0 e 1 x 1)

Dito isto, bom jogo. Que vença o melhor!

sexta-feira, 24 de março de 2023

A diferença entre técnico e líder

 


Por Marcos Vinicius Cabral 

"Qualquer modalidade esportiva, independentemente de qual seja, vai muito além do que uma simples disputa por vitórias, troféus ou pódios.

Há uma cartilha do esporte com mandamentos sagrados a ser seguida à risca e que deixam em nós, lições para o resto da vida.

Lágrimas, dores e derrotas fazem parte desta cartilha, que rege em perder e ganhar, resultante do contexto produzido na competição.

Quer a glória? Tem que ter luta! Mas a derrota deixa em nós, por mais que nos machuque, lições inesquecíveis.

A cena que fica para mim como marcante nesta Copa do Mundo do Catar, não foi o pé inchado de Neymar. 

Não foi também os jogadores comendo carne folheada a ouro ou o zagueiro Éder Militão ostentando um relógio avaliado em aproximadamente R$ 3 milhões.

O que fica para mim foi a saída repentina de Tite, após o Brasil ser eliminado para a Croácia, nas cobranças de pênaltis.

Vergonha? Covardia? Egoísmo? 

Para mim, a imagem dos jogadores desolados inundados em lágrimas é tão pertinente quanto a imagem de Tite, técnico deles, saindo apressadamente para o vestiário.

Consideradas às comparações, me lembrou Zidane caminhando para o vestiário, após acertar cabeçada no peito de Materazzi na Copa do Mundo de 2006.

Mas entre mortos e feridos na batalha campestre vencida pelos croatas na sexta-feira (9), no Estádio da Cidade da Educação, o comandante se acovardou e abandonou os soldados depois da batalha perdida.

O que Tite fez foi desumano. Mesmo já tendo anunciado que não continuaria no comando da Seleção Brasileira, poderia demonstrar um pouco mais de carinho e respeito pelos jogadores. Podia não apenas ter olhos para o próprio umbigo. A dor foi alheia e não dele.

Tite, na sua mediocridade como técnico, foi além, e se superou sendo menor ainda como ser humano.

Após estratégia mal traçada em escolhas estranhas nos tiros importantes nas cobranças de pênaltis que saíram pela culatra, não esboçou sentimento pelos jovens soldados, ali feridos, que precisavam de um mão para serem levantados.

Nenhum deles ouviu do comandante: "Vem, levanta! Vamos cuidar dessas feridas que, independente de continuar com vocês, daqui a quatro anos tem uma outra guerra nos Estados Unidos, México e Canadá!".

Poderia eu, na minha insignificância de jornalista e na minha ignorância de ser humano, tentar atenuar o que penso sobre o abandono de campo de Tite, que perdeu uma Copa do Mundo para ele próprio com uma geração talentosa de jogadores à disposição.

Isso é o que Tite foi. Covarde, arrogante e um técnico que se disfarçou de líder. Sem liderança alguma, simplesmente, sucumbiu para uma Croácia que teve, na figura de alguns jogadores, a hombridade de consolar alguns meninos do Brasil.

O futebol é uma arte que imita a vida e aplaude quem cai de pé, perde lutando. 

Entretanto, o futebol e a arte rejeitam covardes e não toleram atitudes como as que Tite teve.

Poderia Tite, ter se espelhado no colega Hajime Moriyasu, técnico do Japão, que chamou seus jogadores para consolá-los depois da derrota para a mesma Croácia na disputa por pênaltis, pelas oitavas de final da Copa do Mundo. 

Na ocasião, atletas foram aplaudidos pela torcida presente no estádio.

No futebol, ainda mais em uma Copa do Mundo, existe uma gigantesca diferença entre ser técnico e líder. 

Técnicos como Tite escalam time, dão instruções, fazem Dança do Pombo e mexem errado.

Líderes deixam lições. 

Essa foi a diferença!".

quarta-feira, 22 de março de 2023

Mulheres são flores

 


Por Marcos Vinicius Cabral 

Mulheres são flores que desabrocham todos os dias quando nos dão um simples sorriso.

Plantadas em uma noite por um casal de jardineiros envoltos na paixão, deixam de ser sementes e acabam se transformando em corpo presente. 

Cheirosas em diversas cores, elas, mulheres, foram extraídas do pecado adâmico de uma simples costela do homem. A melhor parte do corpo é a mulher.

Mas Deus pintou a mulher em uma tela qualquer do mundo e usou tintas da fértil criação.

Brancas, negras, morenas, loiras... cada uma com sintonia e beleza incomparáveis. Ela é a bela visão do que nós, homens, imaginamos.

Elas têm a vastidão do céu e a profundeza do mar. E são misteriosas.

A mulher refresca como a chuva e dá o calor necessário em noites frias com um simples "Eu te amo!". 

Lindas mulheres em sintonias e que são notas musicais de nossos instrumentos. Mulher é emoção. É flor que merece canteiro e carinho.

Precisa ser cuidada. Adubada. E quando se ama uma mulher, ah, ela floresce. E não morre nunca!

Que você, homem, seja um bom jardineiro para essa flor que Deus brotou no jardim da sua vida".

terça-feira, 21 de março de 2023

O salto

 


Por Marcos Vinicius Cabral

"Um imagem vale mais do que mil palavras. Essa que acompanha o texto é uma delas. Não é o fato da cabra saltar de um penhasco para outro simplesmente.

O salto, muito arriscado por sinal, representa muito mais do que um simples pulo. Significa que a consequência deste ato, se for mal pensado, arquitetado e planejado, pode mudar o resto da vida do pobre quadrúpede.

Simplesmente, não é o fato da cabra ter fé o suficiente para realizar decisão tão perigosa. No entanto, o mais importante é notar que a cabra está focada, tem os olhos fixados na direção do objetivo final que é o outro lado. 

Ela não olha para baixo. Não se distrai olhando para cima ou para os lados. Ela não tem medo de cair e morrer.

Não!

Ela não olha para trás e tampouco se lamenta pela decisão que tomou. Não há arrependimento na decisão. O salto para ela tem um só destino: chegar do outro lado! 

Finalmente, muitas vezes na vida, temos coragem para dar um grande salto, seja na vida profissional, pessoal, conjugal, espiritual, ou seja lá na que for. A queda, pode, lógico, acontecer. 

É inevitável!

Nos encontramos, às vezes, olhando para baixo quando estamos por cima e para cima quando estamos caído por algum motivo.

Entretanto, quiçá, decidir dar um pulo arriscado na vida, este é o conselho que dou: se concentre e vá em frente! Tenha métodos para fazê-lo. Aleatoriamente, não se chega a lugar nenhum!

O resultado do salto, decisão única e exclusivamente sua, mostrará se valeu ou não a pena se arriscar".

sexta-feira, 17 de março de 2023

Leandro

 

Texto e ilustração: Marcos Vinicius Cabral 

Por mais que eu tente buscar palavras neste 17 de março de 2023 para dizer o que você representa na minha vida de torcedor rubro-negro, não será suficiente.

Desde o dia em que descobri, aos oito anos de idade, naquele longínquo 1981, um jogador habilidoso, de cabelo escorrido, olhos verdes, pernas arqueadas, que vestia com altivez a camisa 2. Naquela época, ao ver o Anjo das Pernas Tortas Rubro-Negro jogar e, além disso, demonstrar um amor incondicional ao Flamengo, que não fui mais o mesmo.

"Tio, quem é esse jogador?", perguntei com os olhos fixados na TV com imagens desbotada em preto e branco.

"Leandro, um dos mais habilidosos do Flamengo", respondeu meu tio José Cláudio cheio de frio embaixo do edredom na cidade de Venda das Pedras, em Nova Friburgo.

Ali, sem perceber, fui acertado em cheio quando ouvi o seu nome.

Foi paixão à primeira vista quando vi, com os olhos ingênuos da criança que era. E de paixão, sei que você entende.

Mas ali, com meu tio, esqueci Zico. Não quis saber de Junior e nem me preocupava com as jogadas de Adílio e os desarmes na bola do Andrade.

Se o Raul fechava lá atrás e Marinho e Mozer eram intransponíveis, pouco me interessava.

Dava de ombros, se Tita pela direita e Lico pela esquerda, faziam o diabo na defesa adversária.

O que eu queria era saber sobre o Leandro, que já era considerado por mim, um menino de apenas oito anos, meu craque  predileto.

Não te escolhi. Teu futebol me escolheu.

No entanto, você não foi apenas um cracaço ou um herói com super poderes. Mas um herói que eu gostava pelas qualidades que sempre demonstrou em campo. Fora das quatro linhas, conheci o cidadão José Leandro de Souza Ferreira, que me apresentou a própria família e mostrou-me o significado de duas palavras que todo homem deve manter na vida para ser bem-sucedido: simplicidade e humildade.

Você me ensinou muito mais do que é o significado de amar um clube. Eu me via em você, todas as vezes em que seus pés pisavam em um campo de futebol.

Você fez o seu melhor e se doou de corpo e alma. Eu faço isso até hoje na vida.  

Você respeitou o torcedor. Honrou o Manto Sagrado e quisera Deus, encerrou a brilhante carreira cedo demais.

Tudo foi como Deus quis. No entanto, nesta sexta-feira, 17 de março, estou eu aqui te escrevendo mais um texto - sei que sou chato, tolere, mas é coisa de torcedor - para dizer o quanto você foi importante para mim.

Feliz aniversário. Que Deus abençoe sua saúde, sua família e possa te dar o que o coração desejar.

Um forte abraço não só hoje, que é seu aniversário de 64 anos, mas para sempre!

sexta-feira, 3 de março de 2023

Zico

 

Ninguém explica Zico em campo

Por Marcos Vinicius Cabral

"Zico usou cada metro quadrado dos estádios por onde esteve e fez deles um cadafalso de uso pessoal.

A nós, flamenguistas, que vibramos com os gols que fez, que enlouquecemos com as jogadas criadas por uma mente sã e corpo são, medimos com os olhos impávidos os passes milimetricamente dados com extremo zelo para os companheiros de time.

Dentro do quadrado verde denominado campo de futebol, Zico era diferente na maneira que corria, na forma em que batia na bola, no nó que dava nos cadarços das chuteiras e até na entrevista que concedia antes e depois dos jogos.

O filho caçula de dona Matilde e seu Antunes nunca precisou de promoção, a imagem dele fala por si só.

O aniversariante, que chega aos 70 anos nesta sexta-feira (3), permanece com valores imutáveis e inegociáveis. E se tem algo que muda na vida do eterno camisa 10 todo ano que nem ele consegue conter, é o carisma que cresce dia a dia, mês a mês e ano a ano.

Mas Zico é determinação rara. Sempre foi assim. E humilde sempre.

São qualidades que outros ídolos do futebol tanto quanto ele, desconhecem.

No entanto, feliz fomos nós, que agradecemos todos os anos à imponente sede do Flamengo que abriu os braços querendo abraçar aquele menino loirinho, magrinho, ainda pequeno para 14 anos e fez dele um homem, um atleta, um profissional, um ídolo, que acima de tudo é um enorme ser humano.

Mas tão gigante, tão gigante, que os feitos realizados e descortinados aqui, não estão os 508 gols marcados pelo Flamengo, os 30 pela Udinese e nem os 56 pelo Kashima Antlers, como os que merecem aplausos.

Tampouco os títulos que enfileirou com a camisa rubro-negra.

Na figura pública de Zico, é Arthur Antunes Coimbra que presencia os golaços fora de campo.

Longe dos olhos de quem sempre levantou da arquibancada para aplaudir e vibrar com cada jogada ou gol que fez, o Galinho de Quintino continua fazendo golaços por aí.

Zico, eu e o quadro que pintei dele 

Seja no autógrafo dado a uma criança, a um adolescente, na atenção destinada para um idoso que pede para tirar fotos, aos fãs do Flamengo ou de outros times, Zico vai colhendo o reconhecimento plantado lá atrás com muito esforço e dedicação.

As demais qualidades, o futebol se incumbiu.

No entanto, o maior orgulho de todo rubro-negro não é ter Zico como exemplo. Isso é muito, mas muito pouco para quem foi um gigante personificado em quatro letras apenas.

O maior orgulho da Nação Rubro-Negra é saber que tricolores, atleticanos, coritibanos, alvinegros, palmeirenses, são -paulinos, gremistas, vascaínos, corintianos e torcedores de clubes rivais Brasil afora respeitam e amam o Zico tanto quanto nós.

Esse é o nosso orgulho. E orgulhosos, respiramos fundo, estufamos o peito para poder bater nele e dizer: "eu tenho o Zico!".

O futebol aplaude e a vida agradece".

domingo, 26 de fevereiro de 2023

Super Sandro

 

"Neste sábado (25), a emoção tomou conta do Centro de Futebol Zico, no Recreio dos Bandeirantes, com a entrega de uma cadeira de rodas motorizada para Sandro Rilho.

A ação, realizada pela FlaResende e FlaCampos, duas embaixadas espalhadas pelo Brasil vermelho e preto, tem o objetivo de facilitar a locomoção diária do nosso querido Sandrão.

A partir de agora, o semovente rubro-negro que é um notório colaborador para a memória do clube, poderá realizar visitas às sessões de fisioterapia sem gastar tanta energia, desprender o suor imerecido do rosto áspero com a barba por fazer e não mais pensar em desistir como imagino que em muitas vezes tenha encenado o ato.

Não, Sandrão, o jogo não acabou e muito menos é hora de entregar os pontos.

São 90 minutos. Tudo pode acontecer. 

É você contra sua (por enquanto) limitação. É você disputando a bola contra o carrasco do desânimo, do marcador implacável chamado depressão, do zagueiro viril chamado tristeza.

O adversário é forte. O time deles quer anular você, porque sabe que você decide, é craque e é o cara.

O jogo é truncado, estudado, estratégico, marcação em cima e não tem o VAR para elucidar lances duvidosos.

Não esmoreça com o que está ao seu redor.

Não se enfraqueça por palavras negativas de quem não venceu a morte como você venceu.

Não se desfaleça. Muitos planos e projetos Deus tem para a sua vida.

Não permita-se desbotar o brilho que existe em seus olhos e que se torna lindo quando um busto é inaugurado ou  uma outra ação qualquer é realizada pelo FlaNação.

Você não está sozinho nessa. Pergunte ao Raul se foi fácil ser o goleiro que foi na história rubro-negra tendo que aturar os insultos e xingamentos atrás do gol vindos da torcida adversária?

Fala para o Leandro, que jogou no clube que tanto amou por 12 anos convivendo com o Mal do Cawboy nas pernas, que você pensou em desistir do jogo.

Explique para o Marinho - que faz 68 anos na segunda-feira (27) - e o Lico, que saíram de Londrina e Joinville apostando apenas no talento deles para vencer no Flamengo, que você não creu que venceria a batalha  ao derrotar o Covid-19.

Desabafe com Junior e Andrade que você ficou longe de muitas pessoas que te amam enquanto esteve em coma, no entanto, não esqueça que o Maestro ficou longe cinco anos no futebol italiano e o Tromba foi jogar no Universidad de Los Andes, na Venezuela.

Mas se mesmo assim não estiver convencido do quão és vitorioso, lembre-se de Adílio que saiu da Comunidade da Cruzada de São Sebastião, no Rio, entre Ipanema e Leblon e venceu a pobreza e o preconceito racial para chegar onde chegou.

Ah, Sandrão, meu amigo angolano, esse jogo não é apenas seu. É de todos nós, somos um time!

Confidencie com Tita que você, às vezes, fica desconfortável pelo jeito como os rubro-negros te olham. Entretanto, o eterno camisa 7 rubro-negro vai te dizer com propriedade o que é viver isso quando ele encobriu o rosto com a camisa do Vasco e marcou o gol do título do Carioca em 1987. Ele continuou sendo ídolo do clube. E você se transformou em ídolo dele.

Sandrão, quando pensamentos negativos se apresentarem nessa sua 'nova' vida, mate do peito e saia para o jogo como bem fazia Mozer, nosso xerifão.

Mas se as adversidades se tornarem marcadores implacáveis, que você como grande craque que é, drible-as e siga o exemplo de Zico que superou tudo com força, humildade e profissionalismo e foi determinado e obstinado até tornar-se o maior do Flamengo.

Depois disso, meu caro Sandro Rilho, tenho certeza que você vai sair dessa cadeira de rodas e marcar gols importantes como o nosso artilheiro Nunes fez em jogos decisivos.

Desejo o melhor para você e nada mais justo, afinal de contas, Sandrão sempre foi um torcedor apaixonado pelo clube e irrequieto quando o assunto é valorizar ídolos do Flamengo do passado".